Diagnósticos errôneos de malformações vasculares complicam tratamentos

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Sociedade de Angiologia alerta para a necessidade de avaliações precisas e diferenciação de hemangiomas em crianças

 

 

A maioria dos casos de malformação vascular tem sido erroneamente diagnosticada como hemangiomas, que são tumores vasculares da infância. Esse diagnóstico equivocado atrasa o tratamento adequado e, frequentemente, leva pacientes a medicações e cirurgias desnecessárias.

A Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular-Regional São Paulo (Sbacv-SP) alerta sobre a dificuldade, o desafio e a necessidade de uma avaliação correta desses casos, que fazem parte de um grande grupo de doenças subdivididas em tumores e malformações vasculares. Estima-se que as malformações vasculares acometam 1% da população, enquanto os hemangiomas afetam de 4% a 5% dos recém-nascidos.

“As anomalias vasculares são pouco abordadas durante as graduações na área da saúde. Portanto, a maioria dos médicos, enfermeiros e fisioterapeutas nunca se deparou com essas doenças e pode ter dificuldade em diagnosticá-las e classificá-las adequadamente. Qualquer mancha visível com coloração avermelhada ou arroxeada já é chamada de hemangioma pelo público leigo e, muitas vezes, até por profissionais da saúde. É fácil confundir quando não se tem nenhum conhecimento prévio sobre o assunto, mas um olhar mais cuidadoso pode revelar informações importantes para um diagnóstico correto”, explicou a cirurgiã vascular e vice-diretora científica da Sbacv-SP, Luísa Ciucci Biagioni.

As duas anomalias têm características, evolução e tratamento muito diferentes, tornando essencial a correta classificação. Enquanto os hemangiomas são tumores benignos comuns na infância que proliferam nas primeiras semanas de vida, malformações vasculares são estruturas malformadas não tumorais que se desenvolvem no período embrionário e crescem com o indivíduo.

“Estima-se que de 5% a 10% dos hemangiomas da infância possam ter complicações como crescimento desproporcional, feridas, sangramento e infecções. A maior parte deles cresce e involui lentamente dos 8 aos 12 meses. Podem deixar uma pequena cicatriz, com ou sem vasinhos residuais. Os hemangiomas congênitos raramente podem evoluir com complicações como inchaço, sangramento, dor local, consumo leve de plaquetas. Na maioria das vezes, não desaparecem espontaneamente e podem necessitar de cirurgias para ressecção”, detalhou Luísa.

As malformações vasculares, por outro lado, apresentam vários tipos de lesões, desde pequenas manchas capilares até lesões mais extensas que podem atingir todo o corpo. As malformações menores, com fluxo lento, como as capilares, linfáticas e venosas, são tratadas mais facilmente e raramente causam complicações graves. Quando extensas, podem ter complicações como infecção, sangramento, tromboembolismo venoso, prejuízo na locomoção e dor crônica.

No caso dos hemangiomas, as lesões são abauladas, com coloração rosa ou avermelhada, apresentando vasos finos na superfície e, às vezes, um círculo pálido ao redor. Acometem principalmente meninas, em uma proporção de quatro para um, sendo mais frequentes na região da face e do tronco. Os mais extensos podem deixar cicatrizes esbranquiçadas na pele e vasinhos superficiais. A maioria dos pacientes com hemangioma infantil não desenvolve comprometimentos significativos, com apenas uma pequena parte apresentando problemas como úlceras, sangramentos ou infecções.

“O diagnóstico correto é fundamental para que a família e o paciente compreendam a condição e para que o médico possa traçar um planejamento adequado de tratamento, que pode variar da observação clínica até uma intervenção com cirurgia ou embolizações. Muitos pacientes são submetidos a tratamentos inadequados. Às vezes, há sequelas e complicações graves, como sangramentos e lesão de estruturas saudáveis, como nervos e músculos,” esclareceu Luísa.

A médica explicou que a maior parte das malformações vasculares é causada por uma mutação nos genes que regulam a comunicação celular e o desenvolvimento de vasos sanguíneos e/ou linfáticos. Essa mutação ocorre por volta da quarta semana de vida do embrião e não é herdada dos pais, com apenas 5% das malformações sendo causadas por herança familiar. Já os hemangiomas da infância não têm uma causa exata descrita na literatura médica, mas algumas teorias sugerem migração de células placentárias para o feto e migração de células endoteliais progenitoras após situações de estresse com baixa oxigenação.

Os tratamentos variam conforme o tipo de lesão e os sintomas apresentados, com medicações específicas para controlar o crescimento dos hemangiomas e uso de laser nos casos de lesão residual. Para as malformações, os tratamentos incluem embolizações, cirurgias, medicações específicas, fisioterapia e terapia compressiva para reduzir edema e dor, entre outros procedimentos.

Luísa Biagioni informou que, após avaliação clínica e exames complementares, as prioridades de tratamento são definidas em conjunto com a família e o paciente. “Para algumas condições, optamos apenas pelo acompanhamento clínico, enquanto para outras usamos terapias com medicamentos analgésicos, anticoagulantes ou terapias específicas. Lesões menos graves podem ser tratadas por cirurgiões especializados em problemas vasculares. Já para malformações vasculares como venosas, linfáticas ou arteriovenosas, podemos recorrer a tratamentos percutâneos ou endovasculares.”