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RS enfrenta enchentes e trabalha para evitar propagação de tuberculose

© Nísia Trindade Lima/X

 

Secretaria de Saúde intensifica medidas de controle em abrigos; medicamentos são repostos

 

 

 

O Rio Grande do Sul, atingido pelas enchentes dos últimos 45 dias, tem trabalhado para evitar que doenças como a tuberculose se alastrem e atinjam a população que passou várias semanas convivendo com o frio e alagamentos.

O hospital sanatório Partenon, da rede estadual de saúde, é referência no tratamento da doença. A coordenadora do Programa Estadual de Controle da Tuberculose da Secretaria de Estado da Saúde, Carla Jarczewski, adotou providências junto a abrigos para o controle da doença.

“A gente sabe que a situação de aglomeração favorece o contágio. Desde o início da enchente, temos acentuado muito a busca de quem tem sintomas respiratórios, tosse, suores noturnos, falta de apetite e emagrecimento, que são características do nosso sintomático respiratório, principalmente a tosse, com ou sem catarro. Essas pessoas, quando identificadas com o diagnóstico, devem usar máscara comum para não contaminar outras pessoas”, explicou Carla.

Ela acrescentou que “muitas pessoas que estavam tomando a medicação [contra tuberculose] no domicílio acabaram perdendo o remédio. Assim como perderam a casa, ficaram sem os documentos e medicamentos. Assim, foi pedido para reinstituir a medicação, no menor espaço de tempo possível”.

Controle em Meio às Enchentes

Para Carla, ainda é muito cedo para se identificar se a situação das enchentes no Rio Grande do Sul pode ter aumentado os casos de tuberculose no estado. Ela esclareceu que a tuberculose é uma doença de notificação compulsória, mas como não é uma doença aguda que tenha notificação online, muitas vezes o diagnóstico é feito e demora um pouco para esse dado migrar para o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan).

“Ainda é muito cedo. Temos desde o início das enchentes 45 dias e ainda não se pode trabalhar com esse tipo de indicador. Os números teremos provavelmente no fim do ano, quando a gente começa a fechar os casos no sistema”, disse Carla Jarczewski, diretora técnica do Hospital Sanatório Partenon.

População em Situação de Rua

Os casos de pessoas em situação de rua com diagnóstico de tuberculose no Rio Grande do Sul têm crescido desde 2017, quando houve 188 ocorrências da doença. Esse número vem aumentando gradativamente até 2022, quando foram anotadas 250 vítimas, um percentual pouco maior de 5%.

“Essas pessoas têm 56 vezes mais chances de contrair tuberculose do que a população em geral. O tratamento, que dura no mínimo seis meses, é difícil de ser seguido por pessoas em situação de rua, que muitas vezes abandonam o tratamento antes do fim”, explicou Carla.

Medicamentos e Apoio Federal

Carla disse ainda que as enchentes não atingiram o depósito de medicamentos da Secretaria de Saúde. Porto Alegre, no entanto, perdeu muitos medicamentos para várias doenças em decorrência das enchentes. A coordenadora afirmou que o estado repôs o estoque para cidades atingidas pelas cheias dos rios.

“Nós tivemos o apoio da esfera federal, que nos enviou um quantitativo maior [de remédios], porque todas essas medicações para tuberculose são encontradas unicamente no SUS [Sistema Único de Saúde]. Recebemos um reforço do Ministério da Saúde e repassamos para os municípios de acordo com o número de casos notificados”, acentuou Carla.

Controle da Tuberculose

No Rio Grande do Sul, a situação epidemiológica da tuberculose se mantém sob controle. Desde o início dos anos 2000, o estado tem mais ou menos cinco mil novas ocorrências por ano, com uma taxa de incidência em torno de 42 casos por 100 mil habitantes.

“O nosso problema é que não conseguimos levar o tratamento até o final, e a nossa taxa de cura, na população em geral, ainda é baixa, de 58%. O Ministério da Saúde e os organismos internacionais preconizam que, para a doença estar sob controle, deveríamos curar 85% da população. Aqui temos um número desfavorável em termos de taxa de cura, que deveria ser melhor”, opinou Carla.

Perspectiva de Especialistas

Para a professora e pesquisadora da Fiocruz e titular da Academia Nacional de Medicina, Margareth Dalcolmo, a tuberculose historicamente tem uma incidência maior em pessoas em situação de rua, devido à dificuldade de adesão ao tratamento.

“O tratamento é longo, tem que durar no mínimo seis meses, e essas pessoas migram de um local para outro. Elas tendem a abandonar o tratamento frequentemente. Assim, tratar moradores de rua envolve uma logística complexa que nem todas as secretarias de saúde conseguem fazer. Isso é muito frequente”, observou Margareth.

Ela destacou também que doenças de transmissão respiratória, como o vírus sincicial respiratório, e outras como leptospirose, podem atingir pessoas expostas à água contaminada ou à lama em locais com enchentes. “A leptospirose causou algumas mortes no Rio Grande do Sul”, disse Margareth.

Ela afirmou que, na tuberculose pulmonar, os sintomas mais frequentes são febre, tosse noturna, sudorese noturna, emagrecimento, cansaço e perda de peso. Se houver sintomas respiratórios persistentes, as pessoas devem procurar um serviço de saúde para diagnóstico.

“Qualquer sintoma respiratório como tosse por mais de uma semana deve ser motivo para buscar um serviço de saúde. O diagnóstico pode ser feito em até 24 horas com um teste rápido molecular”, finalizou Margareth Dalcolmo.

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