Agricultores familiares reivindicam apoio e justiça no 24º Grito da Terra Brasil

© Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

 

Evento reúne cerca de 10 mil trabalhadores rurais em Brasília para exigir políticas públicas e justiça agrária

 

 

Com mãos calejadas e rostos marcados pelo sol, cerca de 10 mil agricultores familiares marcharam pela Esplanada dos Ministérios nesta terça-feira (21), em Brasília, para participar do 24º Grito da Terra Brasil. A manifestação, organizada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag) e pela Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), destacou a importância da agricultura familiar para a produção de alimentos saudáveis e a conservação ambiental.

Durante o protesto, os manifestantes apresentaram uma lista de demandas a cada parada em frente aos ministérios responsáveis por políticas públicas voltadas ao meio rural. Entre as reivindicações, destacaram-se estímulos governamentais para sistemas agrícolas resilientes às mudanças climáticas e a inclusão produtiva de 1,7 milhão de famílias que ainda produzem apenas para consumo próprio.

“Nossa pauta é centrada em várias questões relacionadas à produção e à reprodução da vida, com propostas voltadas a políticas sociais e alimentares, sempre tendo como referência a sustentabilidade e uma produção alimentar saudável”, explicou Vânia Marques, secretária de Políticas Agrícolas da Contag e coordenadora do 24º Grito da Terra Brasil.

Agricultura Familiar vs. Agronegócio

Adílson Araújo, presidente da CTB, ressaltou a discrepância de recursos destinados pelo governo ao agronegócio e à agricultura familiar. “Enquanto o governo destina R$ 364 bilhões para o agronegócio, destina apenas R$ 77,7 bilhões para a agricultura familiar, que é responsável por 70% dos alimentos consumidos pelos brasileiros. Grande parte do agro produz apenas para exportação, enquanto os pequenos produtores alimentam a família brasileira”, criticou Araújo.

Araújo destacou que a agricultura familiar responde por 3,9 milhões de estabelecimentos rurais, ocupando 23% das áreas cultivadas do país, e é responsável por 23% do valor bruto da produção agropecuária e por 67% das ocupações no campo.

Regularização de Posses e Solidariedade

Valdinei Grigório de Lima, um agricultor familiar de 62 anos de Vila Bela, Mato Grosso, relatou as dificuldades enfrentadas na sua região, incluindo conflitos com fazendeiros do agronegócio. “Queremos regularizar nossas posses. Trabalhamos em parcerias solidárias com os quilombolas, mas enfrentamos problemas com fazendeiros ricos que compram muitas terras e dificultam o escoamento dos nossos produtos”, denunciou Lima.

Glória Carneiro, de Várzea da Roça, Bahia, destacou a importância da produção familiar para a merenda escolar. “Produzi e vendi 1 tonelada de cocada de licuri em seis meses, que foi distribuída entre escolas e cooperativas. Esse alimento de qualidade é fundamental para as crianças das escolas da região”, afirmou Carneiro.

Aposentadoria e Pronaf

Gilda Lima, presidente do Sindicato Rural de Bom Jardim, Pernambuco, viajou três dias de ônibus para participar do evento e reivindicar facilidades no processo de aposentadoria para agricultores familiares e melhor acesso ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). “Queremos políticas públicas mais voltadas às mulheres e às mães. Há muita burocracia para conseguir o salário-maternidade e outras garantias do INSS”, reclamou Lima, que também produz milho, feijão, mandioca e cria gado.

O 24º Grito da Terra Brasil mostrou a força e a determinação dos agricultores familiares na luta por seus direitos e pela sustentabilidade da produção agrícola no país.