Desigualdades na Pandemia: Estudo aponta desafios e potencial do SUS no combate à COVID-19

Leitos do Hospital da Cidade do Sol estão disponíveis para casos de covid-19 | Fotos: Sandro Araújo/Agência Saúde-DF

 

Pesquisa da Fiocruz destaca impacto das disparidades socioeconômicas e regionais na mortalidade hospitalar

 

 

A pandemia da COVID-19 no Brasil evidenciou não apenas os desafios enfrentados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mas também ressaltou a importância crucial dessa estrutura para o atendimento à população, especialmente aos grupos mais vulneráveis. Um estudo conduzido por pesquisadoras da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) analisou a mortalidade hospitalar por COVID-19 no Brasil entre 2020 e 2022, revelando não apenas as fragilidades do sistema público de saúde, mas também destacando a necessidade urgente de investimentos.

O artigo, intitulado “Covid-19 inpatient mortality in Brazil from 2020 to 2022: a cross-sectional overview study based on secondary data” e publicado no International Journal for Equity in Health, utilizou dados do Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe), do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), do Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH-SUS) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Os resultados revelaram que mais de 70% das internações por COVID-19 foram cobertas pelo SUS. Embora o sistema tenha desempenhado um papel crucial no atendimento aos grupos mais vulneráveis, a pesquisa indicou uma taxa de mortalidade hospitalar ajustada mais elevada no SUS em comparação com hospitais privados e filantrópicos não ligados ao SUS.

A região Sul obteve o melhor desempenho entre as macrorregiões do país, enquanto a região Norte apresentou o pior resultado. Pessoas negras e indígenas, residentes em municípios com menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e internadas fora de suas cidades de residência, tiveram maiores chances de morrer no hospital.

A pesquisa também revelou uma maior mortalidade hospitalar entre pessoas pretas em todas as regiões do Brasil e indígenas nas regiões Norte e Centro-Oeste. O estudo indicou que a taxa de mortalidade hospitalar diminuiu após a vacinação contra a COVID-19 atingir uma cobertura razoável, a partir de julho de 2021.

Os dados destacaram a importância do SUS na prestação de cuidados de saúde à população, mas também ressaltaram fragilidades no desempenho das unidades hospitalares do SUS, revelando problemas estruturais e de financiamento acumulados. As pesquisadoras sugerem que melhorias são necessárias para preparar o sistema de saúde para futuras pandemias, incluindo investimentos em infraestrutura, aumento do número de profissionais de saúde e melhores condições de trabalho.

Para as autoras, apesar dos desafios, o SUS é fundamental e valioso para os brasileiros. No entanto, o estudo destaca a necessidade urgente de investimento e melhoria no SUS, com foco nas causas das desigualdades na oferta, no acesso e nos resultados do cuidado. As conclusões oferecem insights valiosos para orientar debates sobre o papel e a atuação de diferentes prestadores de cuidados hospitalares no sistema de saúde brasileiro, especialmente em momentos de crise.