Pesquisa destaca a importância da vacinação e aponta falhas no sistema de saúde, evidenciando demora no início do tratamento após o diagnóstico
Um estudo divulgado pela Fundação do Câncer nesta terça-feira (5) traz dados alarmantes sobre os casos de câncer relacionados ao papilomavírus humano (HPV) no Brasil. De acordo com a pesquisa, aproximadamente seis mil casos por ano poderiam ser evitados por meio da prevenção primária.
A análise, realizada na quarta edição do estudo “O impacto do HPV em diferentes tipos de câncer no Brasil”, destaca que esses dados não incluem os 17 mil casos anuais estimados de câncer do colo do útero, o tipo mais comum associado ao HPV. Além disso, a prevenção poderia reduzir cerca de 4,5 mil mortes por ano.
A pesquisa focou em cinco tipos de câncer associados ao HPV: orofaringe, ânus e canal anal, vagina, vulva e pênis. Um dos resultados alarmantes é que a maioria dos pacientes chega às unidades de saúde em estágios avançados da doença, especialmente nos casos de câncer de orofaringe, com 88% dos homens e 84% das mulheres já em estágio avançado.
O diretor executivo da Fundação, Luiz Augusto Maltoni, destaca a falha no sistema de saúde relacionada ao tempo de espera para iniciar o tratamento após o diagnóstico. “Os dados apontam que as pessoas tratadas com diagnóstico em mãos, na maioria das vezes, aguardam por mais de 60 dias, o que viola a lei 12.732/12 que garante o início do tratamento dentro desse prazo após o diagnóstico da doença”, ressalta Maltoni.
O estudo observou que, em geral, a maioria dos pacientes diagnosticados tem mais de 50 anos de idade (78%), baixa escolaridade (64%) e é negra (56% dos homens e 53% das mulheres). Destaca-se também que a vacinação, disponível no SUS, é fundamental para a prevenção desses tipos de câncer.
A consultora médica da Fundação do Câncer, Flávia Miranda, enfatiza a importância da conscientização e aumento da cobertura vacinal. “O avanço do controle dos tipos de câncer relacionados a esse vírus depende muito da conscientização no aumento da cobertura vacinal, aliada à redução das barreiras de acesso”, afirma Miranda.
O epidemiologista e consultor médico da Fundação, Alfredo Scaff, destaca que os dados levantados podem direcionar políticas públicas específicas. “Essas informações mostram que há um problema no fluxo da rede de saúde. Compreender as disparidades regionais é essencial para desenvolver intervenções direcionadas e garantir melhores resultados para todos os pacientes”, conclui Scaff.