Brasil e Alemanha fortalecem laços bilaterais com amplo acordo

© Ricardo Stuckert/PR
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Presidente Lula e chanceler Scholz assinam declaração sobre meio ambiente, agricultura, tecnologia e combate à desinformação

 

 

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e o chanceler alemão, Olaf Scholz, assinaram hoje uma declaração conjunta de intenções durante a 2ª Reunião de Consulta Intergovernamental de Alto Nível, em Berlim.

O documento abrangente abrange a cooperação em vários campos, incluindo conservação ambiental, mudanças climáticas, agricultura, bioeconomia, energia, saúde, ciência, tecnologia, desenvolvimento global, integridade da informação e combate à desinformação. Estes acordos estão em discussão há vários meses.

Em nota à imprensa após o encontro, o presidente Lula enfatizou o alcance dos acordos. “Adotamos uma parceria para uma transformação ecologicamente e socialmente justa. Fortaleceremos uma cooperação robusta em áreas ambientais, incluindo o Fundo Amazônia e muitos outros projetos. Nosso foco é promover a industrialização verde, a agricultura de baixo carbono e a bioeconomia”, detalhou Lula.

O chanceler Olaf Scholz ecoou o compromisso de ambos os países com a sustentabilidade e a descarbonização das indústrias. Segundo Scholz, a Alemanha iniciará projetos para apoiar a meta do Brasil de atingir o desmatamento zero até 2030. “Nosso objetivo é criar indústrias neutras e promover a pesquisa climática. Essa transição só será bem-sucedida se for socialmente justa”, disse, explicando a intenção de gerar emprego no Brasil por meio da transformação da matéria-prima.

“Nossos ministros assinaram mais de uma dezena de declarações de intenção para dar substância a essa parceria. Tal implica uma cooperação aprofundada nos sectores das energias renováveis e do hidrogénio. Estamos associando o potencial do Brasil ao interesse da Alemanha no hidrogênio verde”, acrescentou Olaf Scholz.

Outro acordo assinado hoje teve como foco a integridade da informação e o combate à desinformação. O chanceler alemão mencionou os acontecimentos de 8 de janeiro, quando vândalos atacaram a sede dos Três Poderes, em Brasília. Ele se referiu a ele como um “evento triste” com “imagens horripilantes” e ressaltou a importância de democracias resilientes no combate às campanhas de desinformação nas redes sociais.

Lula acrescentou que “forças antidemocráticas” atuam internacionalmente de forma coordenada para alimentar o extremismo, ressaltando a importância do acordo bilateral.

As Consultas de Alto Nível representam o mais alto mecanismo teutônico-brasileiro, com sua única reunião realizada em Brasília, em agosto de 2015. A partir dessa reunião, os dois países realizarão consultas a cada dois anos.

Durante o encontro, também foram discutidas a presidência brasileira do G20, iniciada em 1º de dezembro, e o acordo Mercosul-União Europeia.

No final do dia, Lula deve se reunir com representantes de alto nível de empresas alemãs e brasileiras e participar da sessão de encerramento do seminário empresarial Brasil-Alemanha. Segundo Lula, essa será uma oportunidade de apresentar projetos no âmbito do Programa de Aceleração do Novo Crescimento (PAC).

O presidente Lula chegou a Berlim no domingo, após visitas ao Oriente Médio, incluindo a participação na 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 28), em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, e compromissos em Riad, na Arábia Saudita, e Doha, no Catar.

A programação da delegação brasileira na capital alemã começou com um jantar de trabalho oferecido pelo chanceler Olaf Scholz. Na segunda-feira, Lula iniciou o dia com uma agenda com o presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, e depois com a presidente do Conselho Federal da Alemanha, Manuela Schwesig.

As discussões com o presidente Steinmeier abrangeram investimentos em infraestrutura por meio do Novo PAC, avanços na melhoria do cenário econômico brasileiro, reafirmação da proteção ambiental como prioridade e aspirações de liderança na transição energética.

Em resposta, o presidente alemão expressou gratidão “em nome da Alemanha e do mundo” pelos esforços renovados de proteção ambiental do Brasil desde janeiro de 2023. O diálogo também incluiu discussões sobre a importância da democracia, especialmente diante das ameaças da extrema direita.

O encontro com Manuela Schwesig teve como objetivo aprofundar as relações entre governadores de regiões alemãs e brasileiras, ampliar as colaborações existentes no setor de bioenergia e sinalizar novas oportunidades para as relações entre empresários brasileiros e alemães. O Conselho Federal da Alemanha reúne os governos locais em uma estrutura comparável ao Senado brasileiro. O presidente da entidade também é o governador de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental.

O comunicado da Presidência brasileira enfatizou que Lula e Schwesig ressaltaram a importância da democracia, “especialmente diante das ameaças da extrema direita”. Schwesig agradeceu o retorno de um Brasil democrático, reconhecendo a relação duradoura e sólida entre Brasil e Alemanha, incluindo empresas em seu estado que se dedicam a projetos de bioenergia no Paraná e em Santa Catarina, utilizando subprodutos animais para gerar energia.

Como terceira maior economia global, a Alemanha é um parceiro crucial para o Brasil, particularmente nos campos tecnológico e industrial. Mais de mil empresas alemãs operam no Brasil e, segundo o Banco Central, a Alemanha é a oitava maior fonte de investimentos no Brasil, com US$ 23,73 bilhões em ações.

O comércio bilateral atingiu US$ 19 bilhões em 2022 e, de janeiro a outubro de 2023, já somou US$ 15,9 bilhões.

Em relação aos conflitos internacionais, ambos os líderes foram questionados sobre suas posições diferentes sobre o conflito Israel-Hamas. Enquanto o Brasil defende um cessar-fogo permanente, a Alemanha apoia o direito de Israel à autodefesa. Lula destacou que os conflitos internacionais não foram amplamente discutidos durante o encontro. Ele enfatizou seu compromisso com a paz, chamando o ataque do Hamas a Israel de terrorista e irresponsável.

“A única solução para o conflito Israel-Palestina é a consolidação de dois países vivendo pacificamente em seus territórios. Falei com muitas pessoas de Israel e da Palestina, mas parece que alguns não querem paz, não querem dois países. O povo quer; quem não quer tem outros interesses”, expressou Lula, lamentando a perda significativa de vidas em Gaza.

O chanceler Scholz concordou com a necessidade de evitar vítimas civis e defendeu a manutenção da ajuda humanitária em Gaza. Ele apoiou a ideia de uma reforma da governança global e afirmou que a agressão contra os países vizinhos é inaceitável.

“O ataque do Hamas é um crime hediondo que violou todos os princípios da humanidade. Portanto, Israel tem o direito à autodefesa, a derrotar o Hamas e a evitar novos ataques”, afirmou a chanceler alemã. Ele acredita que, após a guerra, um futuro com convivência entre dois Estados é possível. “Mas isso não é possível com o Hamas, que quer destruir Israel. Agora, a perspectiva de paz com dois Estados e autogestão palestina é uma ideia que apoiamos”, concluiu.

Em 7 de outubro, o Hamas, que controla Gaza, lançou um ataque surpresa com mísseis contra Israel, aumentando as tensões na região. O conflito resultou em inúmeras vítimas, feridos e deslocados