Especialistas Analisam Risco de Conflito Armado Entre Venezuela e Guiana

© LEONARDO FERNANDEZ VILORIA

 

Enquanto se aproxima o referendo sobre a redefinição de fronteiras, crescem especulações sobre um possível conflito; especialistas divergem sobre a probabilidade de guerra

 

 

À medida que a Venezuela se prepara para o referendo deste domingo (3) sobre a redefinição da fronteira com a Guiana, aumentam as especulações sobre o risco de um conflito armado entre os dois países sul-americanos. Especialistas ouvidos pela Agência Brasil oferecem análises distintas sobre a crise em desenvolvimento.

O professor de Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Williams Gonçalves, acredita que existe a possibilidade de guerra, e ela poderia envolver grandes potências estrangeiras. Gonçalves destaca a importância do petróleo na região, tornando a internacionalização do conflito uma possibilidade real. Ele menciona que Nicolás Maduro busca fortalecer sua posição política interna mexendo em uma questão com a qual a maioria concorda, incluindo a oposição.

A Guiana, tradicionalmente um país com baixos indicadores sociais, passou por um boom econômico devido à descoberta de grandes reservas de petróleo. Esse crescimento despertou o interesse de potências estrangeiras, como os Estados Unidos, enquanto a Venezuela mantém relações sólidas com a Rússia e a China.

Por outro lado, Mariana Kalil, professora de geopolítica da Escola Superior de Guerra (ESG), considera improvável uma ofensiva militar venezuelana. Ela destaca que a estratégia de Nicolás Maduro visa, principalmente, interesses políticos internos, buscando apoio popular e tentando salvar o regime bolivariano. A professora argumenta que, mesmo em caso de aprovação do referendo, a comunidade internacional se mobilizaria para evitar o conflito, dada a alta complexidade e custos envolvidos nas relações entre os países.

Com as tensões aumentando na América do Sul, o papel do Brasil é colocado em evidência como possível mediador. Mariana Kalil destaca a tradição brasileira como mediador de conflitos na Venezuela e acredita que o país, sob o governo atual, que adota uma visão cooperativa e multilateral, pode desempenhar um papel crucial na mediação da situação.

O professor William Gonçalves também vê o Brasil como um interlocutor essencial, capaz de transitar entre Venezuela e Guiana, graças à sua credibilidade com o regime bolivariano. Ambos concordam que a ação diplomática do Brasil é crucial para evitar um desastre na região.

O Ministério da Defesa brasileiro intensificou suas ações na “fronteira ao norte do país”, aumentando a presença militar na região. O Ministério das Relações Exteriores defende a busca de uma solução pacífica para a controvérsia entre Venezuela e Guiana. O referendo deste domingo e seus desdobramentos continuam sendo monitorados de perto pela comunidade internacional.