Pandemia de covid-19 afeta a primeira infância nas favelas, aponta estudo

Vacinação de crianças contra a covid-19 na UBS 5 de Taguatinga Sul
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Diagnóstico revela impactos nas áreas de saúde, alimentação, educação e segurança das crianças de 0 a 6 anos na região

 

 

O complexo das 16 favelas da Maré, localizado na zona norte do Rio de Janeiro, enfrentou profundas consequências na primeira infância durante a pandemia da covid-19. O Diagnóstico Primeira Infância nas Favelas da Maré, divulgado nesta quarta-feira (27) pela organização não governamental (ONG) Redes da Maré, revela os impactos nas áreas de saúde, alimentação, educação e segurança das crianças de 0 a 6 anos, considerada uma fase crucial para o desenvolvimento infantil.

A população nessa faixa etária corresponde a 12,4% dos moradores da Maré, totalizando quase 15 mil crianças. Durante a pandemia, a pesquisa aplicou 2.144 questionários diretamente nas residências das famílias e realizou entrevistas com profissionais de redes de proteção e apoio à primeira infância, como professores, assistentes sociais e profissionais de saúde. O objetivo era traçar um panorama da situação da realidade de 2.796 crianças nessa faixa etária.

Dentre os principais achados, 54,1% das famílias pesquisadas tiveram dificuldades relacionadas à alimentação. Em 11,8% dos domicílios, algum familiar deixou de comer para garantir alimento para a criança. A segurança alimentar foi um desafio significativo, com implicações diretas no desenvolvimento infantil.

Quanto à segurança, o estudo constatou que 62% das operações policiais ocorreram próximo a escolas e creches, afetando diretamente o cotidiano das crianças. Cerca de 38,2% dos cuidadores afirmaram que as crianças já presenciaram algum tipo de violência. Entre as consequências, estão a perda de aulas (37,1%) e a redução do desempenho escolar (26,1%).

Na área da educação, é crucial ampliar o acesso a espaços de desenvolvimento infantil e creches, pois as políticas públicas voltadas para a primeira infância são insuficientes para atender à demanda do território. Atualmente, existem apenas seis creches municipais e 15 Espaços de Desenvolvimento Infantil (EDIs) para as quase 15 mil crianças nessa faixa etária.

Além disso, o relatório destaca a necessidade de considerar as formas de cuidados adotadas pelas famílias das favelas e periferias, valorizando as diferentes maneiras de cuidar. A responsabilidade pelo sustento e pelos cuidados muitas vezes recai sobre as mulheres, destacando a importância de políticas que garantam direitos e possibilidades de vida, como acesso à educação e ao trabalho.

Na área da saúde, é recomendado ampliar o atendimento, com mais unidades básicas e especialidades médicas, possibilitando a realização de exames básicos no interior das favelas. A promoção de cuidados adequados às gestantes e a oferta de vacinação completa para as crianças são essenciais para reduzir a taxa de mortalidade neonatal e de crianças menores de cinco anos.

O diagnóstico busca chamar a atenção para a necessidade de políticas públicas abrangentes e eficazes que considerem a realidade das favelas e periferias, garantindo o desenvolvimento saudável e seguro das crianças, principalmente durante crises como a provocada pela pandemia de covid-19.