
Uma pesquisa inédita realizada pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC) revela que as ações policiais nas favelas do Rio de Janeiro geram um prejuízo econômico de pelo menos R$ 14 milhões anualmente para os moradores dessas comunidades. A pesquisa, intitulada “Favelas na Mira do Tiro: Impacto da Guerra às Drogas na Economia dos Territórios”, lançada nesta segunda-feira (18), baseou-se em dados coletados em comunidades que enfrentam frequentes tiroteios devido a operações policiais.
Foram entrevistados 400 moradores do Complexo da Penha e 400 do Complexo de Manguinhos, áreas com a maior incidência de tiroteios decorrentes de ações policiais entre junho de 2021 e maio de 2022, segundo o Instituto Fogo Cruzado. Além disso, 303 comerciantes de favelas afetadas pelas trocas de tiros foram ouvidos.
Os resultados da pesquisa indicam que 60,4% dos moradores que exerciam atividades remuneradas ficaram impedidos de trabalhar devido às operações policiais no ano anterior à pesquisa. Isso resultou em uma média de 7,5 dias de trabalho perdidos, totalizando uma perda de R$ 9,4 milhões por ano, considerando a renda média da população nesses territórios.
Além das perdas salariais, os prejuízos com bens danificados pelas ações violentas totalizam R$ 4,7 milhões anualmente nos dois complexos estudados. Levando em consideração tanto a perda de renda quanto os danos a bens, o estudo estima um prejuízo anual de aproximadamente R$ 14 milhões devido às ações policiais.
O comércio local também é afetado, representando 34,2% do faturamento desses estabelecimentos. Os tiroteios resultam no fechamento temporário de mais da metade dos estabelecimentos e diminuição das vendas e atendimentos em 51,2% dos empreendimentos.
A socióloga Rachel Machado, coordenadora de pesquisa do CESeC, destaca que as operações policiais afetam não apenas no momento específico da operação, mas também nos dias seguintes, gerando um clima de ansiedade e insegurança. A violência constante deixa marcas profundas e incalculáveis nas comunidades afetadas.
O lado humano dessas estatísticas é ainda mais sombrio, com centenas de vidas perdidas em operações policiais. Em 2022, 1.327 pessoas foram mortas em ações das forças de segurança do Rio de Janeiro, representando quase 30% de todas as mortes violentas no estado. Crianças e adolescentes também são vítimas frequentes, com 112 mortes nos últimos sete anos.
A pesquisa destaca a necessidade urgente de repensar a abordagem à segurança pública nas favelas, visando garantir a preservação de vidas e o respeito aos direitos fundamentais dos moradores dessas comunidades. É um chamado para uma mudança significativa que priorize o bem-estar das pessoas e promova um ambiente seguro e estável para todos.