O vírus HBV, causador da hepatite B, é um inimigo silencioso que pode permanecer latente no organismo por anos antes de se manifestar, frequentemente resultando em sérias complicações, como cirrose ou câncer de fígado quando finalmente identificado. Felizmente, a vacina contra a hepatite B, disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) para crianças, adolescentes e adultos, desempenha um papel crucial na prevenção dessa doença, que pode ser transmitida sexualmente, pelo contato com o sangue e durante a gestação, da mãe para o bebê.
A Dra. Raquel Stucchi, infectologista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia, enfatiza a importância da vacina contra a hepatite B, que foi pioneira como a primeira vacina a ser disponibilizada contra um tipo de câncer, visto que o vírus da hepatite B é o principal agente causador do câncer de fígado.
“A vacinação diminuiu drasticamente os casos de hepatite B e o risco de cirrose e câncer de fígado. Por isso, a vacina é importante. E por que na infância? Primeiro, a adesão na infância é mais fácil. Ela é administrada junto com outras vacinas nos primeiros meses de vida e pode ser realizada logo após o nascimento no berçário. Além disso, a resposta das crianças à vacina contra a hepatite B é de 100%, proporcionando proteção vitalícia”, destaca a Dra. Stucchi.
É fundamental destacar que a vacinação contra a hepatite B após o nascimento desempenha um papel fundamental na prevenção da transmissão vertical do vírus, ou seja, da mãe para o bebê. Portanto, ela faz parte do calendário de vacinação do adulto e da gestante, além de ser administrada nos bebês logo após o nascimento.
O Dr. Renato Kfouri, pediatra e presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), ressalta que a vacinação precoce ao nascer é crucial para impedir a transmissão do vírus da mãe para o bebê, especialmente se a mãe estiver infectada com o vírus.
“Ao vacinar logo após o nascimento, eliminamos essa possibilidade, reduzindo significativamente a chance de termos portadores crônicos do vírus no futuro. Essa é a razão para a vacinação precoce”, explica o Dr. Kfouri.
Ele enfatiza que evitar o desenvolvimento de uma infecção crônica é uma maneira eficaz de bloquear o vírus.
O calendário de vacinação infantil inclui a proteção contra a hepatite B por meio da vacina pentavalente, que deve ser administrada aos 2 meses, aos 4 meses e aos 6 meses de idade. Além dessa forma, a vacina pentavalente também oferece proteção contra difteria, tétano, coqueluche e Haemophilus influenzae B, que causa certos tipos de meningite.
A partir dos 7 anos de idade, quando não há comprovação de vacinação contra a hepatite B ou quando o esquema vacinal está incompleto, é recomendado completar três doses da vacina específica da hepatite B, com um intervalo de 30 dias entre a primeira e a segunda dose e de 6 meses entre a primeira e a terceira. Essa recomendação se aplica a adolescentes, adultos e, especialmente, gestantes.
Em relação aos efeitos colaterais e eventos adversos, a Sociedade Brasileira de Imunizações informa que, na maioria dos casos, a vacinação contra a hepatite B causa apenas efeitos leves, como dor no local da aplicação, endurecimento, inchaço, vermelhidão, febre bem tolerada nas primeiras 24 horas após a aplicação, cansaço, tontura, dor de cabeça, irritabilidade e desconforto gastrintestinal. Eventos adversos mais graves são raros.
Segundo o Ministério da Saúde, o vírus HBV é responsável por um terço dos casos de hepatite notificados no Brasil e estava relacionado a um quinto das mortes por hepatite entre 2000 e 2017. A maioria das pessoas infectadas com o vírus não apresenta sintomas até décadas após a infecção, quando os sinais se assemelham aos de outras doenças hepáticas, como fadiga, tontura, náuseas/vômitos, febre, dor abdominal e icterícia.
A hepatite B ainda não tem cura, e o tratamento disponível no SUS visa reduzir o risco de progressão da doença, que pode levar a complicações graves. A Dra. Raquel Stucchi destaca que o tratamento com antivirais é necessário por toda a vida.
“A pessoa só descobrirá que está infectada quando já tiver uma cirrose avançada ou desenvolver câncer de fígado, caso não faça o teste. O diagnóstico é simples, inclusive por meio de testes rápidos”, afirma a Dra. Stucchi.
A vacinação é a forma mais eficaz de prevenir a hepatite B e suas complicações associadas, tornando-a um elemento crucial na manutenção da saúde pública. Portanto, é fundamental que todos estejam cientes da importância da vacinação e sigam as orientações do calendário vacinal para garantir uma vida saudável e livre de hepatite B.