Crescimento Alarmante de Ramais na Floresta Amazônica Levanta Preocupações Ambientais

© Cristie Sicsú

No contexto dos Diálogos Amazônicos e da Cúpula da Amazônia realizados em Belém, a capital paraense, pesquisadores lançam um alerta sobre o “crescimento absurdo” da abertura de ramais na floresta amazônica. Esses trechos de estradas não oficiais estão se multiplicando ao longo da BR-319, localizada na região sul do Amazonas. As denúncias surgem como um contraponto às discussões sobre desenvolvimento sustentável na região.

Segundo dados do Observatório BR-319 (OBR-319), a rede de ramais nos municípios de Canutama, Humaitá, Manicoré e Tapauá totaliza 5.092 quilômetros, quase seis vezes a extensão da própria BR-319, que liga Manaus a Porto Velho, em Rondônia. Entre 2016 e 2022, esse sistema de estradas não autorizadas aumentou em 68%, resultando em mais 2.061 km de ramais nestes municípios.

Thiago Marinho, um dos responsáveis pelo mapeamento, expressa preocupação com a rapidez do desmatamento: “É um intervalo muito curto de tempo para uma quantidade enorme de floresta que tem desaparecido. E uma expansão absurda de ramais”. Ele destaca a taxa alarmante de crescimento do desmatamento e sugere que a velocidade dessa degradação é alarmante e requer atenção urgente.

O Observatório BR-319 (OBR-319), uma rede de organizações da sociedade civil, incluindo instituições como Greenpeace, WWF-Brasil, Fundação Amazônia Sustentável (FAS) e Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), se empenha em promover o desenvolvimento sustentável na área de influência da BR-319 e expor práticas degradantes do meio ambiente.

O mapeamento dos ramais foi conduzido com base em imagens de satélite fornecidas pelo Projeto NICFI (Iniciativa Internacional do Clima e Florestas da Noruega), do Ministério do Clima e Meio Ambiente da Noruega. Os quatro municípios em foco foram escolhidos devido aos altos índices de desmatamento na região.

O surgimento desses ramais, segundo o observatório, não tem como principal intuito facilitar o deslocamento das populações locais ou escoar produção. Em vez disso, eles parecem contribuir para logísticas ilícitas, como a exploração madeireira e outras atividades de degradação ambiental.

A criação de ramais é um processo complexo e dispendioso, o que leva os pesquisadores a suspeitarem do envolvimento de grupos com poder econômico considerável. Marinho observa que “Abrir mais de uma centena de quilômetros dentro da mata fechada e região remota requer logística, um conjunto de pessoal, equipamentos. É muito difícil associar isso a um pequeno produtor rural. Quem faz todo esse sistema acontecer precisa movimentar uma grande quantidade de dinheiro.”

Esse rápido crescimento de ramais na floresta amazônica é uma preocupação significativa, não apenas por sua contribuição para o desmatamento, mas também por impactar comunidades locais, degradar áreas protegidas e afetar populações indígenas. Os pesquisadores estão pedindo ações mais efetivas de fiscalização e controle, bem como uma abordagem conjunta entre as autoridades para conter esse problema crescente.