Telescópio Espacial Hubble observa planeta com atmosfera sendo destruída por erupções estelares

Imagem do Hubble mostra atmosfera do planeta escapando pelo espaço NASA/ESA/Joseph Olmsted (STScI)

 

Sistema planetário próximo revela fenômeno astronômico inesperado, desafiando teorias de evolução planetária

 

O Telescópio Espacial Hubble, da NASA, realizou uma observação surpreendente de um planeta próximo que está tendo sua atmosfera destruída por explosões energéticas provenientes de sua estrela hospedeira.

O planeta em questão orbita a estrela anã vermelha AU Microscopii, também conhecida como AU Mic, situada a 32 anos-luz da Terra, o que é relativamente próximo em termos astronômicos. Esse sistema planetário é um dos mais jovens já observados, com a estrela tendo menos de 100 milhões de anos, uma fração da idade do nosso sol que possui 4,6 bilhões de anos.

O sistema planetário foi descoberto pelo extinto Telescópio Espacial Spitzer da NASA e pelo Satélite de Pesquisa de Exoplanetas em Trânsito (Transiting Exoplanet Survey Satellite) em 2020, quando uma leve diminuição no brilho da estrela revelou a presença de um planeta gasoso orbitando-a.

Em uma primeira observação da órbita do exoplaneta, que leva 8,46 dias, tudo parecia normal. Entretanto, quando o Telescópio Espacial Hubble revisitou o sistema um ano e meio depois, os astrônomos ficaram surpresos ao descobrir que o planeta AU Mic b estava sofrendo com a radiação da estrela, levando à evaporação de sua atmosfera de hidrogênio.

O sistema possui pelo menos dois exoplanetas conhecidos, e a possibilidade de haver mais planetas a serem descobertos não está descartada.

Essa descoberta foi divulgada em um estudo que será publicado em uma edição futura do The Astronomical Journal.

Keighley Rockcliffe, autor do estudo e candidato a doutorado em física e astronomia no Dartmouth College em Hanover, New Hampshire, afirmou que nunca haviam visto uma fuga atmosférica passar de completamente indetectável para altamente detectável em um período tão curto, quando um planeta passa à frente de sua estrela. Rockcliffe descreveu a observação como estranha e fora do padrão, superando suas expectativas.

As estrelas anãs vermelhas são as mais comuns na Via Láctea, menores e mais frias que nosso sol, mas com erupções estelares que duram muito mais tempo. Essas erupções estão atingindo o AU Mic b, que está localizado a apenas 6 milhões de milhas da estrela, uma distância equivalente a um décimo da que separa nosso sol de seu planeta mais próximo, Mercúrio.

A radiação atinge o planeta, aquecendo sua atmosfera até que ela escape da gravidade e se dissipe no espaço. Rockcliffe compara esse fenômeno como um teste de estresse para as teorias de evolução planetária, dado o ambiente extremo em que AU Mic b está inserido.

Essa observação estranha está lançando luz sobre a interação entre estrela e planeta, proporcionando um raro vislumbre desse cenário extremo e inexplorado.

Astrônomos estão empenhados em determinar quais planetas podem resistir a tais ambientes hostis e se esses planetas têm potencial de serem habitáveis ao longo do tempo. No entanto, ainda não têm respostas definitivas sobre como seriam as composições finais desses mundos em nosso sistema solar.

O Hubble continuará a observar o sistema e conduzir mais estudos para rastrear como AU Mic b mudará no futuro, possibilitando novos insights sobre a interação entre planetas e estrelas em sistemas distantes.