
Em uma decisão histórica, o Banco Central (BC) cortou os juros pela primeira vez em três anos. O Comitê de Política Monetária (Copom) aprovou, por 5 votos a 4, uma redução de 0,5 ponto percentual na taxa Selic, que agora se encontra em 13,25% ao ano. A decisão pegou o mercado financeiro de surpresa, já que a expectativa era de um corte menor, de 0,25 ponto.
O presidente do BC, Roberto Campos Neto, desempatou o voto a favor do corte mais expressivo. Em comunicado, o Copom destacou que a queda da inflação possibilitou a redução dos juros. Com o cenário inflacionário melhorando e expectativas mais baixas para a inflação no longo prazo, o comitê ganhou confiança para iniciar um ciclo gradual de flexibilização monetária.
O colegiado também informou que todos os membros preveem cortes de 0,5 ponto nas próximas reuniões. O objetivo é manter a política monetária contracionista necessária para controlar a inflação.
A última vez que o BC havia reduzido a Selic foi em agosto de 2020, quando a taxa caiu para 2% ao ano. Desde então, o Copom elevou os juros consecutivamente até março de 2021, quando manteve a taxa em 13,75% por sete reuniões seguidas.
O contexto econômico foi marcado por uma alta dos preços de alimentos, energia e combustíveis, o que levou o BC a elevar os juros para conter a inflação. A taxa chegou ao menor patamar da história, 2% ao ano, durante a contração econômica provocada pela pandemia de Covid-19, e permaneceu nesse patamar por um período.
A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou junho com variação negativa de 0,08% e acumula 3,16% nos últimos 12 meses. A desaceleração dos preços de alimentos e combustíveis tem contribuído para a queda da inflação nos últimos dois meses.
A Selic é o principal instrumento do BC para controlar a inflação oficial, e a queda dos juros tende a estimular a economia ao baratear o crédito e incentivar a produção e o consumo. No entanto, taxas mais baixas podem dificultar o controle da inflação. O Banco Central previa crescimento de 2% para a economia em 2023, mas o mercado projeta uma expansão maior, impulsionado pelo crescimento de 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre. As previsões apontam para uma expansão de 2,24% do PIB em 2023.
O Copom tem como referência a meta de inflação fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que para 2023 é de 3,25%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. A inflação não pode ultrapassar 4,75% nem ficar abaixo de 1,75% este ano. A expectativa do mercado é que a inflação oficial encerre o ano em 4,84%, um cenário mais otimista que as projeções oficiais, que apontavam para 5%. O novo relatório com as projeções será divulgado em setembro pelo BC.
Com os cortes na taxa Selic e a expectativa de uma inflação sob controle, o cenário econômico sinaliza a retomada gradual da atividade e pode abrir espaço para estímulos à economia, visando à geração de empregos e aumento do consumo. O ritmo dos cortes, no entanto, dependerá do comportamento futuro da inflação e do cenário econômico nacional e internacional.