Arquitetura flutuante: o futuro das cidades em meio ao aumento do nível do mar

Criada em colaboração com o escritório NLÉ do arquiteto Kunlé Adeyemi, com sede em Amsterdã, a exposição “Water Cities Rotterdam” apresenta uma série de pavilhões flutuantes / Divulgação/NLÉ

 

Enquanto o mundo enfrenta o desafio do aquecimento global, é inevitável que precisemos lidar com as realidades das mudanças climáticas que já estão em curso. Entre elas, o aumento do nível do mar é uma das ameaças mais urgentes. Estima-se que até 2050, as costas dos EUA terão um aumento de 25 a 30 centímetros, o que pode levar ao desaparecimento de comunidades e países inteiros. Cerca de 900 milhões de pessoas vivem em áreas costeiras baixas, tornando-as especialmente vulneráveis a esse problema.

Enquanto muitos tentam encontrar soluções convencionais, como construir quebra-mares e erguer casas sobre palafitas, alguns arquitetos estão pensando em um futuro diferente: uma vida com água e sobre ela. Projetos de cidades flutuantes “resilientes ao clima”, como um ambicioso assentamento oceânico na Coreia do Sul e outro nas Maldivas, têm ganhado destaque.

No entanto, alguns projetos já existentes estão mostrando como essa vida sobre a água pode ser real e sustentável. O escritório de arquitetura NLÉ, liderado por Kunlé Adeyemi, tem se dedicado à pesquisa e testes de arquitetura flutuante em todo o mundo. Uma série de pavilhões flutuantes evoluiu a partir do projeto aclamado Makoko Floating School, que está localizado em um distrito central de Lagos, Nigéria, onde milhares de pessoas vivem em estruturas informais de madeira sobre palafitas. Inspirado por esse assentamento, Adeyemi construiu uma escola em 2012, acessível por barco e com uma base de barris de plástico que a fazia flutuar.

A partir dessa experiência, Adeyemi desenvolveu o Makoko Floating System (MFS), um conjunto de estruturas sustentáveis de madeira que podem ser rapidamente montadas e desmontadas em diferentes locais e condições climáticas. O sistema é modular e projetado para atender aos códigos de construção europeus. Ele acredita que o MFS pode ser utilizado para diversos fins, desde moradia até educação, oferecendo uma solução inclusiva para as comunidades mais vulneráveis.

O projeto Nassauhaven, concluído recentemente em Roterdã, na Holanda, é um exemplo da construção sobre a água como uma alternativa para o futuro. A cidade é particularmente vulnerável ao aumento do nível do mar, com 90% de sua área abaixo do nível do mar. O projeto apresenta 17 casas flutuantes construídas pela empresa local Public Domain Architects (PDA), que são neutras em energia e projetadas para subir e descer suavemente com as marés diárias.

Para Adeyemi, não há pesquisas suficientes sobre como construir e viver na água, apesar de ela compor 70% da superfície da Terra. Através do trabalho exposto na exposição “Water Cities Rotterdam” e em seu novo livro “African Water Cities”, ele espera preencher essa lacuna e mostrar que a civilização humana pode aprender a conviver com a água em vez de lutar contra ela.

A arquitetura flutuante não é apenas uma solução para o aumento do nível do mar, mas também pode ser uma resposta para a falta de moradia e para a necessidade de adaptação climática. Com projetos inovadores e sustentáveis, os arquitetos estão abrindo caminho para um futuro em que a água será parte integrante de nossas vidas e comunidades.