Estudo liderado pela Universidade Duke investiga saúde mental de minorias raciais e de gênero

© Marcelo Camargo/Agência Brasil

 

 

O estudo piloto da pesquisa Smile, liderada pela Universidade Duke, dos Estados Unidos, que investiga a saúde mental de pessoas identificadas como minorias raciais e de gênero, gerou fundamentos para a segunda etapa de um trabalho que está em andamento. No Brasil, a coordenadora do estudo é a professora Jaqueline Gomes de Jesus, vinculada ao Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ) e à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

O projeto piloto foi realizado em 2017 em seis países (Brasil, Quênia, Vietnã, Índia, Camboja e El Salvador) e envolveu 2 mil pessoas. Agora, a nova etapa, mais aprofundada, tem foco no Brasil, Quênia e Vietnã, em função do financiamento aprovado pelo governo norte-americano, destinado apenas a essas nações. A meta é obter a participação de 3,5 mil pessoas da população LGBTI+ (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais/travestis e intersexo) em cada um dos três países. No Brasil, os participantes podem responder a um questionário online disponível em um endereço específico.

A segunda etapa do estudo aprofunda o que foi pesquisado na primeira fase, conforme afirmou Jaqueline Gomes de Jesus à Agência Brasil. A nova pesquisa proporcionará uma “precisão gigantesca” em relação às demandas em saúde mental e às intervenções em políticas públicas.

O questionário abrange questões sobre saúde mental, com foco em ansiedade, depressão, estresse pós-traumático, autoestima, pensamentos suicidas e apoio social, e leva cerca de 15 minutos para ser respondido. Além de coletar dados, o questionário também oferece serviços, como uma lista de entidades para buscar apoio caso seja necessário. Caso haja indicação de risco de suicídio, a pessoa pode responder a um documento chamado “planejamento de segurança”, avaliando sua rede de apoio e contatos para reduzir os riscos associados ao suicídio. Essa orientação é uma prestação de serviço adicional e não faz parte do questionário principal.

Dados globais mostram que pessoas LGBTI+ enfrentam uma série de desafios em relação à saúde mental. Por exemplo, cerca de 52% dos jovens LGBTI+ relatam ter se automutilado, enquanto o percentual entre jovens cis héteros é de 35%. Além disso, pessoas trans apresentam taxas mais altas de problemas de saúde mental em comparação com pessoas cisgêneras LGB. O estudo Smile visa fornecer dados específicos para o Brasil, possibilitando a aplicabilidade de informações que já foram obtidas em outros estudos globais. Os resultados da pesquisa devem ser obtidos a partir de 2025 e podem ser usados para embasar políticas públicas voltadas para o tratamento em saúde mental, com base em evidências científicas.

A pesquisa também incluirá abordagens de grupos focais para determinar o tipo de cuidado mais importante em termos de ansiedade e depressão para cada grupo específico em cada país. Essa abordagem permitirá identificar as intervenções necessárias de acordo com a população-alvo e levará em consideração fatores culturais que podem influenciar o tratamento adequado. As conclusões da pesquisa têm o potencial de contribuir para a criação de políticas públicas efetivas que atendam às necessidades da população LGBTI+ em relação à saúde mental.