Cientistas brasileiros identificam anomalias vasculares em estudo inédito de exames de imagem

Foto de Niko Azhari Hidayat na Unsplash

 

Um estudo pioneiro realizado por cientistas brasileiros analisou todos os exames de tomografia computadorizada e ressonância magnética realizados em uma única instituição ao longo de 10 anos. O levantamento, que envolveu mais de 996 mil estudos realizados entre 2009 e 2019, revelou a presença de anomalias vasculares em aproximadamente 2% dos pacientes, o equivalente a 18,49 casos para cada 1.000 exames (17,41 hemangiomas; 0,69 cavernomas e 0,39 malformações vasculares a cada 1.000 exames).

Os resultados dessa análise, conduzida por pesquisadores do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, foram publicados no periódico científico Annals of Vascular Surgery.

“Nosso objetivo era descobrir com que frequência essas anomalias afetavam as pessoas, e conseguimos identificar essa taxa de 1,8%”, afirma a cirurgiã-vascular Maria Fernanda Portugal, pesquisadora e doutoranda do Programa de Pós-graduação Stricto sensu em Ciências da Saúde do Einstein.

As anomalias vasculares são malformações nos vasos sanguíneos, como veias e artérias, podendo ser simples ou complexas. Entre as mais comuns estão os hemangiomas, tumores benignos frequentes na infância, caracterizados pelo crescimento desordenado de pequenos vasos sanguíneos na pele ou em órgãos internos, que podem desaparecer sem a necessidade de tratamento, embora outros casos possam requerer intervenção médica.

“As anomalias identificadas em menores de 18 anos já foram exploradas em outros estudos. No entanto, acima dessa faixa etária, para a qual há menos pesquisas disponíveis, a maioria das alterações foi encontrada em mulheres submetidas a exames de imagem”, explica Marcelo Passos Teivelis, pesquisador e orientador do trabalho.

Outra anomalia frequente é o cavernoma, um aglomerado de vasos sanguíneos anormais geralmente encontrado no cérebro e na medula espinhal. Embora seja uma lesão benigna, apresenta riscos de sangramento e compressão das estruturas do sistema nervoso central.

Na maioria dos casos, no entanto, essa malformação não causa sintomas e é descoberta acidentalmente quando o paciente realiza exames de imagem por outros motivos. Nesses casos, o tratamento pode ser recomendado para prevenir possíveis hemorragias ou resolver compressões.

“Este levantamento teve como objetivo entender a realidade no país, ou seja, mostrar a proporção de anomalias em uma população geral, e conseguimos alcançar esse objetivo”, explica o cirurgião-vascular Nelson Wolosker, coorientador da pesquisa e reitor da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein.