
Há controvérsias, mas a história do cinema brasileiro começa oficialmente em 19 de junho de 1898, quando foram gravadas as primeiras imagens com o cinematógrafo no Brasil, pelo italiano Afonso Segreto. Ele registrou a Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, a bordo de um navio.
Ao longo desses mais de cem anos, a produção nacional teve muitos momentos de glória. Exemplos recentes são Central do Brasil (1998), Cidade de Deus (2002) e Tropa de Elite (2007), que foram aclamados em vários países e conquistaram prêmios internacionais.
Central do Brasil, dirigido por Walter Salles, ganhou entre outros prêmios, o nosso primeiro Urso de Ouro em Berlim e o Urso de Prata de melhor atriz para Fernanda Montenegro. Com roteiro de João Emanuel Carneiro e Marcos Bernstein, o filme conta a história da ex-professora Dora (Fernanda Montenegro), que conhece o garoto Josué na estação de trens Central do Brasil, no Rio de Janeiro, e o acompanha em viagem pelo interior do nordeste em busca do pai do menino, que ele não conhece.
Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, que relata como o tráfico de drogas se estruturou nas favelas do Rio de Janeiro nos anos 1980, é um dos momentos mais importantes do cinema brasileiro. Foi indicado para quatro Oscars em 2004: melhor diretor, melhor roteiro adaptado (Bráulio Mantovani), melhor edição (Daniel Rezende) e melhor fotografia (César Charlone). Até então, nenhum filme brasileiro tinha sido escolhido para essas categorias e nem recebido mais de duas indicações ao prêmio da Academia de Hollywood.
Algo parecido aconteceu com Pixote, a Lei do Mais Fraco (1980), de Hector Babenco. O filme fala de uma realidade parecida com a de Cidade de Deus, mas com história ambientada em São Paulo. Conta a história de um garoto que foge de um reformatório para menores infratores e passa a se envolver em atividades criminosas com assaltantes e traficantes nas ruas da capital paulistana.
Fernando Ramos, o intérprete de Pixote, foi recrutado de uma favela paulista, para onde voltou depois do filme. É um retrato tão realista da situação daquela época, que o ator foi morto alguns anos depois, aos 19 anos, por policiais militares, sob a acusação de estar envolvido com atividades criminosas e ter reagido a uma abordagem.
Já são 16 anos de Tropa de Elite, de José Padilha, que denunciou de forma nua e crua a violência, a corrupção e a vida dura dos policiais do Bope carioca. Ao mesmo tempo levou multidões aos cinemas. O sucesso foi tão grande que em 2010 veio uma continuação. Topa de Elite 2 repetiu o feito.
Dona Flor
A lista de sucessos de bilheteria é grande, com filmes para todos os gostos, como O Auto da Compadecida, Se Eu Fosse Você e Minha Mãe é Uma Peça. Se formos voltando a fita chegamos em Os Trapalhões, Xuxa e ao que até pouco tempo era a insuperável maior bilheteria do cinema nacional: Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976). A adaptação da apimentada história de Jorge Amado, com Sônia Braga, levou 10,7 milhões de espectadores às salas.
Este número foi superado por outros títulos da atualidade. Mas é preciso levar em conta que a população brasileira na década de 70, quando Dona Flor foi lançado, era a metade da atual.
O resgate da história do cinema nacional pode ser ampliado com muitos filmes de outras épocas, como as comédias de Mazaroppi ou o filão erótico representado por títulos como A Dama do Lotação, também estrelado por Sônia Braga.
Mas o cinema brasileiro é bem mais do que sucessos de bilheteria. Outros cineastas tiveram um importante papel no reconhecimento da crítica internacional, como os integrantes do movimento do cinema novo. Glauber Rocha conquistou o respeito dos europeus com filmes como Deus e o Diabo na Terra do Sol e Terra em Transe. Além deles, outros nomes também consagraram o movimento pelo mundo, como Nelson Pereira dos Santos, Arnaldo Jabor, Cacá Diegues e Joaquim Pedro de Andrade.
O Pagador de Promessas (1962), adaptado da peça de Dias Gomes, com direção de Anselmo Duarte, é o único filme brasileiro a ter recebido até hoje a Palma de Ouro em Cannes.
Mas já tínhamos um grande ícone da sétima arte nacional, lançado em 1931, no Rio de Janeiro. Trata-se de “Limite”, de Mário Peixoto, considerado um dos filmes mais importantes do cinema brasileiro. Conta a história de três náufragos, duas mulheres e um homem, que vagam perdidos numa canoa em alto mar. Uma dessas mulheres conta como escapou da prisão com a ajuda de um guarda.
Carmem Miranda
Nos anos 30 se sobressaíram ainda a obra de Humberto Mauro e a produtora Cinédia, no Rio de Janeiro, onde surgiu Carmem Miranda, a pequena notável que brilhou também nas produções hollywoodianas.
Também no Rio de Janeiro, foi criada, em 1941, a produtora Atlântida Cinematográfica, que lançou Grande Otelo. O ator surgiu para a fama ao interpretar a si mesmo no filme “Moleque Tião” (1943), baseado em sua própria vida.
Como se vê, são muitas histórias. E aqui não foram contadas nem a metade delas. O importante é que, depois de enfrentar muitas turbulências ao longo desses mais de cem anos, o cinema brasileiro está mais vivo do que nunca.
Importante lembrar que a produção nacional foi exterminada na década de 1990 no Governo Collor, que, numa canetada extinguiu a Embrafilme e o País ficou longos anos sem produzir um longa. Mas depois renasceu das cinzas como o movimento da retomada, cujo auge foram filmes como Tropa de Elite e Cidade de Deus.
Goiás também participou desse movimento de efervescência do cinema nacional. Surgiu o Fica e inúmeros outros festivais. As leis de incentivam têm fomentado uma vasta produção local que, a cada ano, está consolidando a produção goiana. Bem antes, nas décadas de 1960 e 1970, tivemos João Bennio, ator e diretor que se instalou em Goiânia e projetou o nome do Estado no Brasil.
Com a pandemia do coronavírus tudo voltou praticamente ao zero novamente em todo o País. Mas a situação vai se normalizando. Agora o cinema nacional chega ao público não apenas na sala escura, mas também na televisão, na internet e nos streamings. E o que é melhor, atualmente é produzido nos mais diferentes sotaques, em todas as regiões do País.
Com informações da Alego