Estudo inédito revela que mais de 62% das crianças indígenas vivem abaixo da linha de pobreza no Brasil

© Rovena Rosa/Agência Brasil

 

 

Um estudo pioneiro realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) examinou a situação socioeconômica de crianças indígenas no Brasil e constatou que mais de 62% delas vivem em condições de pobreza. O estudo, realizado por pesquisadores da Fiocruz e de outras instituições, acompanhou uma coorte de nascimentos indígenas ao longo do tempo, buscando identificar possíveis associações entre as condições de exposição de risco à saúde e os resultados observados na população estudada.

Os pesquisadores analisaram diferentes aspectos, como padrões de habitação, acesso à água e saneamento, além da posição socioeconômica da população Guarani. Foram identificados três padrões de habitação e água/saneamento e quatro padrões de posição socioeconômica, totalizando 36 combinações possíveis. O estudo revelou associações significativas entre condições precárias de moradia e extrema pobreza, e hospitalização durante o primeiro ano de vida.

A distribuição heterogênea das crianças nos diferentes padrões identificados ressalta a importância de considerar separadamente os impactos das dimensões de habitação, água e saneamento, e posição socioeconômica na saúde infantil. Os resultados também podem orientar futuras pesquisas sobre os determinantes de saúde em outras populações indígenas.

Este estudo inédito, realizado em duas regiões do Brasil, destaca a relevância de analisar os dados de saúde infantil indígena e os efeitos das condições socioeconômicas, sanitárias e habitacionais dessa população. Até o momento, não existem estudos semelhantes em outras partes do mundo. Os dados foram coletados por meio de um sistema de vigilância implantado em 63 aldeias da etnia Guarani, abrangendo cinco estados do Sul e do Sudeste do Brasil, entre 2014 e 2017.

Para a análise, foram utilizados métodos estatísticos multivariados, que permitiram identificar padrões distintos de acesso a políticas públicas de habitação, água e saneamento, e posição socioeconômica. O estudo foi publicado na revista científica The Lancet Regional Health – Americas e está disponível em acesso aberto. Além de revelar a realidade das comunidades indígenas e rurais, o artigo também traz uma reflexão sobre as limitações dos indicadores socioeconômicos tradicionais para captar a diversidade socioeconômica nessas populações.