Marsupiais fornecem insights sobre o desenvolvimento inicial do cérebro humano, revela estudo

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Um novo estudo realizado pela Universidade de Queensland, na Austrália, sugere que o desenvolvimento inicial do cérebro humano pode compartilhar mais semelhanças com o dos marsupiais do que se imaginava. Os pesquisadores acreditam que essas descobertas podem levar a uma melhor compreensão dos padrões cerebrais associados a condições de neurodesenvolvimento, como o transtorno do espectro autista (TEA). O estudo foi publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).

Segundo Rodrigo Suárez, principal autor do estudo do Queensland Brain Institute e da Escola de Ciências Biomédicas da universidade, os marsupiais são mamíferos que nascem em estágios extremamente precoces, equivalente ao meio da gestação humana. A maior parte do desenvolvimento do cérebro marsupial ocorre após o nascimento, dentro da bolsa da mãe.

Para a pesquisa, os cientistas utilizaram indicadores de luz para registrar a atividade elétrica dos neurônios nos marsupiais. Eles observaram o início e a maturação de padrões de atividade neural complexos, usando microscopia avançada para entender como as células cerebrais em desenvolvimento se comunicam pela primeira vez.

A análise revelou a existência de padrões distintos desde o início, indicando que a atividade neural começa antes da experiência sensorial. Além disso, características elétricas únicas em células recém-nascidas podem ser essenciais para o estabelecimento saudável das conexões cerebrais. Defeitos sutis nesses padrões podem levar a condições de neurodesenvolvimento, como o TEA.

Embora seja bem estabelecido que os bebês humanos respondem à estimulação antes do nascimento, o momento exato em que a atividade elétrica começa no cérebro em desenvolvimento ainda é amplamente desconhecido, afirma Suárez. Isso se deve em grande parte ao fato de que apenas os mamíferos desenvolveram um córtex cerebral, a superfície enrugada que controla as funções sensoriais, motoras e cognitivas do cérebro. Além disso, a maioria dos modelos experimentais não pode sobreviver em estágios tão iniciais fora do útero.

O estudo dos marsupiais pode contribuir para avançar o conhecimento sobre a evolução do cérebro humano. As descobertas destacam os primeiros processos de desenvolvimento do cérebro que surgiram há milhões de anos e que ainda estão em andamento com poucas mudanças, provavelmente influenciando a evolução e a diversificação do córtex cerebral, conclui Suárez.