Em 9 meses, casos de meningite em 2022 superaram os de 2021 no Rio de Janeiro

vacinação contra meningite

 

Apesar do aumento em relação ao ano anterior, Secretaria de Saúde diz que não há surto da doença no estado

 

 

O estado do Rio de Janeiro registrou aumento nos casos de meningite e de doença meningocócica em 2022, segundo a Secretaria de Estado de Saúde (SES). A pasta, porém, afirma não haver surto da doença em território fluminense.

A SES informou na quinta-feira (29) que, entre janeiro e agosto de 2022, o número de casos de doença meningocócica no estado aumentou 55,5% quando comparado com o mesmo período de 2021. Durante todo o ano de 2021, foram registrados 30 casos, sendo que oito pacientes foram a óbito. Em 2022, até agosto, já há 28 notificações da doença e sete óbitos. Se forem considerados todos os casos de meningite, os 977 registrados até agora no estado já superam os 959 contabilizados ao longo de todo o ano de 2021.

É chamada de meningite qualquer inflamação localizada nas meninges, membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal. Os micro-organismos causadores podem ser vírus, bactérias, fungos e outros agentes. As meningites virais são as mais comuns e as que costumam evoluir com menor gravidade. Já a doença meningocócica é causada por diferentes tipos de bactérias chamadas meningococos, que podem causar meningites mais graves ou até meningococcemia, a infecção generalizada causada pelo meningococo.

Vacinas

O Programa Nacional de Imunizações oferece diferentes tipos de vacinas que protegem contra diferentes tipos de meningite bacteriana: a vacina meningocócica C (conjugada), que previne contra o tipo C da doença meningocócica; a Penta, que evita a meningite causada pela bactéria Haemophilus influenzae B, além de outras quatro doenças; e a vacina meningocócica ACWY, que protege contra os sorogrupos A, C, W e Y do meningococo. Há ainda as meningites bacterianas causadas pelos pneumococos, cujos 10 principais sorotipos são prevenidos pelo imunizante Pneumocócica 10-Valente.

A vacina meningocócica C (conjugada) é a que está no calendário vacinal brasileiro há mais tempo, desde 2010, porque o sorotipo C é o mais prevalente no país. Apesar disso, a cobertura desse imunizante para menores de 1 ano vem caindo nos últimos anos. Segundo a SES, em 2017, a taxa ficou em 91,32%; em, 2018, em 87,86%; em 2019, reduziu para 76,81%; em 2020, caiu para 57,12%; e em 2021, ficou em 54,49%. Em 2022, até o dia 22 de setembro, a taxa inserida no sistema estava em 36,38%.

A cobertura vacinal do ano de 2022 ainda deve ser atualizada na base de dados, porque os números estão sujeitos a atrasos no preenchimento dos formulários por parte dos municípios.

O esquema vacinal da meningocócica C prevê duas doses, aos 3 e aos 5 meses de idade, e um reforço, que deve ser feito preferencialmente aos 12 meses de idade. A SES lembra ainda que, em julho deste ano, o Ministério da Saúde ampliou a oferta da vacina meningocócica C para trabalhadores da saúde e crianças com até 10 anos de idade. Crianças entre 5 e 10 anos que nunca receberam o imunizante devem tomar apenas uma dose e os trabalhadores da saúde devem receber dose de reforço, mesmo que já tenham esquema vacinal completo.

A vacina meningocócica ACWY é prevista no calendário de crianças e adolescentes de 11 a 14 anos, e a imunização nessa faixa etária é importante para conter a circulação, já que adolescentes e adultos jovens são os principais responsáveis pela transmissão da doença no país.

Cerca de 10% dos adolescentes e adultos são portadores assintomáticos do meningococo na garganta e podem transmitir a bactéria mesmo sem adoecer, por meio de secreções respiratórias, como gotículas de saliva.

Já a vacina Penta protege contra a bactéria Haemophilus influenzae B, que também causa meningite bacteriana, além de prevenir da difteria, tétano, coqueluche, e hepatite B. O imunizante deve ser aplicado nas crianças aos 2, 4 e 6 meses de idade, mas as coberturas também estão em queda: 93,49%, em 2017; 88,16%, em 2018; 55,15%, em 2019; 55,77%, em 2020; e 54,27%, em 2021. Este ano, até o dia 22 de setembro, a taxa está em 34,67%.

A secretaria informa que, mesmo com o fim, nesta sexta (30), da Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite e Multivacinação, todas as vacinas destinadas à imunização de crianças e adolescentes continuam disponíveis nos postos de saúde, incluindo os três imunizantes que protegem contra a meningite.

O presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, Marco Aurélio Sáfadi, ressalta que a vacina é a principal ferramenta de prevenção contra a doença meningocócica.

“A manifestação da doença é uma crise de sintomas, que é caracterizada por febre, dor de cabeça e vômito. Essa é a tríade clássica da meningite. Além disso, como há infecção nas meninges, há a rigidez de nuca e outros sinais”, descreve. “São sempre casos graves, que levam à prostração, torpor, queda de estado geral, muitas vezes têm manchas no corpo e manifestações de maior gravidade. Via de regra, esse é o quadro da meningite bacteriana”.

Sáfadi acrescenta que bebês com a doença vão apresentar gemidos, irritabilidade e abaulamento da moleira, além da febre, vômito e dor de cabeça.

O médico explica que, quando um caso de doença meningocócica é diagnosticado, é preciso fazer o rastreio dos contatos para medicação com antibióticos, já que a maior parte dos portadores da bactéria não manifesta os sintomas da doença, mas pode transmiti-la.