Presidente da FPF admite levar Paulistão a outros estados: “Não entendo por que o protocolo do futebol não serve”

Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da Federação Paulista de Futebol — Foto: ROBERTO CASIMIRO/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

 

 

O presidente da Federação Paulista de Futebol, Reinaldo Carneiro Bastos, afirmou nesta quarta-feira em entrevista ao programa Seleção SporTV que estuda a possibilidade de levar o Campeonato Paulista a outros estados do país. O dirigente se mostrou descontente que a recusa do Ministério Público de autorizar a continuidade da competição e disse que não há mais diálogo com o governo estadual.

– Os clubes vão nas casas dessas pessoas para testar familiares. Vamos esperar isso do governo? É isso que a gente quer? Impedir essas pessoas de terem um atendimento? Eu não consigo entender por que o protocolo de A, B e C ser bom, mas o do futebol não serve. A ciência e a medicina dizem que é seguro. Se disserem que temos que parar, paramos, não somos negacionistas. O futebol não é cego. Nós vamos chegar a quatro mil mortes e continuamos vivendo, nós temos plano de saúde, condição financeira, mas e as pessoas que não têm? Manda para casa? A situação é grave, meus amigos, é grave – afirmou Bastos.

– Nós propomos ao Ministério Público e ao governo do estado testar todos os atletas, isolar todos, quem tem CT, no CT, quem não tem, em hotéis. Testar antes de todas as partidas, ninguém sairia da bolha, com um número reduzido dos profissionais do clube e dos que fazem as partidas. Em média temos 176 pessoas em uma partida de futebol, íamos reduzir para 55. Imprensa, só os detentores dos direitos. Seríamos extremamente rígidos, mas mesmo assim, sem ciência e medicina, não foi aceito. Próximos passos: estamos estudando com cautela a alternativa de jogar em outros estados. Por enquanto, com muita cautela, só após estar ajustado com prefeitos e governadores que daremos esse passo – disse Bastos.

Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da Federação Paulista de Futebol — Foto: ROBERTO CASIMIRO/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO
Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da Federação Paulista de Futebol — Foto: ROBERTO CASIMIRO/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

O presidente quer evitar uma briga judicial com o governo de São Paulo após o decreto do governador João Doria (PSDB) que colocou o estado na fase mais restritiva do isolamento por conta do aumento do número de casos de Covid-19.

– Óbvio que a Justiça é a última das opções, mas quem não teve um problema com inquilino, batida de automóvel, problema com patrão, e foi para a Justiça resolver. Ir atrás disso faz parte da democracia. O futebol procurou o governo e o Ministério Público várias vezes, esgotamos qualquer forma de diálogo. Justiça é a última opção, quando não tiver mais caminho.

Reinaldo Carneiro Bastos disse ainda que está preocupado com a sobrevivência dos clubes pequenos e garantir o sustento a jogadores que recebem baixos salários.

– Não há possibilidade do Paulista não ser terminado, e não há impacto positivo, só negativo. Somos obrigados a cumprir nossos contratos, e não falo dos detentores dos direitos. Estamos falando de 48 clubes que têm contratos com seus profissionais. Nós falamos do futebol como se só existissem clubes grandes, mas não, a grande realidade do futebol brasileiro são os clubes pequenos. Vi uma entrevista do jogador do Sergipe ontem, no SporTV, aquela é a realidade.

– O cara precisa do salário para sustentar a família. A gente não defende a manutenção das competições por causa de grandes clubes, de atletas que recebem grandes salários. Queremos salvar a saúde financeira e física dos pequenos, dos humildes. Se eles forem para casa ficarem nesses 15 dias, perdem os testes, acompanhamento médico e até correm chance de perder o salário. E não são só atletas, são os massagistas, preparadores… Vamos pensar no todo, parar de pensar só na elite, esses têm plano de saúde. A gente tem que cuidar dos humildes. Nesse momento triste a gente quer que esse grupo grande, mas humilde, seja empurrado para a fila do SUS? Vá para a fila da UTI? Nós temos controlado, os clubes têm controlado a saúde dessas pessoas. A gente luta para cuidar de gente, salvar vida.

Bastos admitiu que ficou incomodado com as negociações com o Ministério Público.

– O que nos incomoda muito é parar o futebol por uma recomendação do Ministério Público, sem respeito à ciência e à medicina. O que incomodou a Federação foi parar o futebol, ajustar uma reunião com o governo, com o Ministério Público. Fomos para essa reunião com três secretários do estado. Levamos a possibilidade da bolha. Dissemos que pararíamos a Séries A2 e A3, que o futebol não é cego, propusemos a bolha. Mas todos, sem nenhum exceção, fizeram qualquer crítica ao projeto apresentado. Nenhuma crítica. Nossa surpresa foi, quando na coletiva, o governador Doria trocou o interlocutor do Centro de Contingência da Covid-19, que faltou com a verdade. Todos elogiaram o protocolo e a proposta da Federação. Na reunião de noite com o Ministério Público, usando essa fala do Paulo Menezes, manteve a decisão. Não teve ciência, não teve medicina, e não foi isso que conversamos na reunião. Isso incomodou muito a federação e os clubes. (Ge)