Eleger vilões é um dos principais mitos relacionados à alimentação saudável.
Por Antonio Lancha Jr.
Outro dia, conversando com uma amiga, ouvi dela a pergunta considerada mais importante para quem quer emagrecer: “Qual alimento eu não posso comer em hipótese alguma?”. Pois essa é uma armadilha que criamos. Adotar o pensamento binário, baseado no “sim ou não”, estimula em nossas mentes um padrão de permitido e proibido, certo e errado. Memorize aqui um conceito importante: não existe alimento saudável, e sim um padrão alimentar saudável.
Quando tentamos banir algum item que julgamos ser o vilão da dieta equilibrada, acabamos criando, em paralelo, um desejo – às vezes, incontrolável – de ingeri-lo.
Os mecanismos desse comportamento ficaram ainda mais evidentes nesse período de distanciamento social. Afinal, aqueles alimentos saborosos e até então vetados do dia a dia, ganharam status de prêmio de consolação devido à alteração da nossa rotina – algo parecido ocorre com as bebidas alcoólicas.
Acontece que pensar em alimentos proibidos e permitidos gera culpa e sensação de fracasso quando cedemos à tentação. Para escaparmos desse comportamento, o primeiro passo é mudar o adjetivo ligado a esses ingredientes.
Comece se perguntando: “Eu quero isso?”. A partir daí, defina os alimentos como desejados ou não desejados. E, ao se permitir consumir algo, foque no fato de que você está no controle da situação: trata-se de sua opção e responsabilidade. Assim, tanto o ônus como o bônus da escolha são inteiramente seus.
Se você taxa um alimento de proibido e cede à tentação, a ingestão prazerosa inicial será imediatamente substituída por culpa. Esse sentimento exigirá outro pedaço para amenizar o sofrimento. Após o deleite inicial, o segundo pedaço trará de volta o peso na consciência. Este ciclo se repetirá até que o maior prazer possível nessa situação aconteça: o fim do alimento. Pode parecer engraçado, mas a verdade é que temos imensa satisfação ao realizar uma tarefa assim. É como se ticássemos a alternativa “acabou a tentação”.
Por outro lado, a permissão do alimento figura como uma escolha. E quando isso acontece, o sabor de cada mordida é ritualizado e sentido, representando o prazer da opção – sem a necessidade de ver o fim do prato como prêmio. Na ausência da culpa, nos permitimos comer devagar e curtir cada pedaço. Por isso, muitas vezes até nos satisfazemos com uma quantidade menor.
Alterar esse tipo de pensamento representa, portanto, a grande estratégia para encontrar o caminho definitivo do emagrecimento. Então, quando algum alimento surgir na sua mente como proibido, lembre-se: você pode comê-lo! Mas é realmente isso o que deseja?
Se a resposta for sim, coloque-o em um momento especial da semana, como se fosse uma ilha para a travessia. Falamos mais desse conceito no livro “O Fim das Dietas” (compre aqui). Em resumo, as ilhas são estratégias programadas para que seu trajeto ao emagrecimento seja prazeroso, e não apenas o destino dessa viagem. (Veja)